Moçambique, um país de vasta beleza natural e recursos promissores, encontra-se numa encruzilhada perigosa. A sua estabilidade duradoura está ameaçada por uma mistura explosiva de fatores interligados que, se não forem contidos, poderão ter consequências devastadoras.

O componente mais volátil desta mistura é, inegavelmente, a insurgência em Cabo Delgado. Lançada por grupos extremistas, esta violência não só ceifou milhares de vidas e deslocou centenas de milhares de pessoas, como também paralisou projetos cruciais de gás natural liquefeito (GNL) que são vitais para a economia futura do país. O conflito é um sintoma profundo da marginalização, da pobreza e da falta de oportunidades que assolam muitas comunidades.

Adicionada a esta crise de segurança, temos a fragilidade económica e a corrupção endémica. Apesar do potencial dos megaprojetos, a riqueza gerada não se traduziu em melhorias palpáveis para a maioria da população. A percepção generalizada de que os recursos do país beneficiam apenas uma elite alimenta o descontentamento e mina a confiança nas instituições. Casos notórios de corrupção e gestão irresponsável da dívida apenas intensificam esta descrença.

Finalmente, a polarização política e as tensões não resolvidas do passado atuam como o pavio desta bomba. As disputas partidárias, muitas vezes enraizadas em rivalidades históricas, desviam a atenção e os recursos da resolução dos problemas prementes do país, como a saúde e a educação.

Para evitar a detonação, Moçambique precisa de uma abordagem multifacetada. É essencial restabelecer a segurança, mas tal deve ser acompanhado por uma governança mais transparente, uma distribuição mais equitativa da riqueza e um investimento genuíno no desenvolvimento humano e nas oportunidades para os jovens. A estabilidade de Moçambique não pode ser comprada; tem de ser construída com inclusão, justiça e responsabilidade.